sexta-feira, 2 de julho de 2010

A VIDA DO BÁB




Ribeira Brava, 2010-07-02;por Deolinda Pereira; Bibliografia principal: “Manifestantes Gémeos”, Instituto Ruhi, Livro, 1987”


O Báb, para aqueles que nunca ouviram falar, é uma das três Figuras Centrais da Fé Bahá’i que significa “a Porta”, a porta para o conhecimento de Deus e para uma nova era na existência humana.
Antes do aparecimento da Manifestação de Deus, existe alguém que vem antes para preparar a Sua chegada. Assim, alguns anos antes de Bahá’u’lláh proclamar a Sua Missão, Deus enviou um Mensageiro especial para anunciar a Sua chegada. Este grande Mensageiro foi intitulado “O Báb”.
Durante seis anos Ele ensinou incessantemente que o aparecimento do novo Manifestante de Deus – O Qá’im – Aquele que se Levantará, O Prometido de Deus – estava próximo e preparou o caminho para a Sua vinda. Ele ensinou as pessoas a purificarem os seus corações para que pudessem reconhecer O Prometido quando Ele viesse.
Milhares e milhares de pessoas aceitaram a Mensagem do Báb e começaram a seguir  os Seus ensinamentos. Mas o governo do Irão e o poderoso clero que governava as massas levantaram-se contra Ele. Os Seus seguidores foram perseguidos e uma grande quantidade foi morta. O próprio Báb, aos 31 anos foi martirizado por 750 soldados. Por ordem do governo, eles prenderam – No numa praça e, com suas espingardas, atiraram contra Ele.
Após Seu martírio, o corpo do Báb foi atirado fora dos portões da cidade. Os Seus seguidores recuperaram Seus restos mortais e levaram – No de um lugar para outro, escondendo – O sempre dos inimigos da Fé. Finalmente, eles transferiram – No para o Monte Carmelo, na Terra Santa.
Parte 2
Segue-se, em termos cronológicos e de forma muito breve, alguns eventos da Sua vida num trajecto de Suas viagens e desterros, de acordo com o mapa em anexo.
De Bushihr o Báb, após Sua revelação a Mullá Hussain, parte em peregrinação para Meca e Medina, cidades santas para o Islão, sendo em Medina que repousam os restos mortais do Profeta Maomé. Em Meca, o Báb anunciou, por escrito, Sua Missão ao Governador. De Medina partiu de novo para Bushihr, na Pérsia.
De Shiraz chega ordem de prisão emitida pelo Governador, por a nova Mensagem do Báb estar a ser ensinada com grande fervor. E quando o Báb foi levado à sua presença, ele O tratou com crueldade vergonhosa. O ódio deste governador era tal que sua intenção era mesmo executar o Báb. Mas na noite em que o Báb foi preso surgiu uma epidemia em Shiraz. Todos entraram em pânico e em poucas horas morreram muitas pessoas. Um oficial de polícia, cujo filho foi milagrosamente curado pelo Báb, reconheceu a Mão de Deus no surto desta epidemia e implorou ao governador que libertasse o Báb. Este, temendo pela vida da sua família e dos habitantes da cidade, aceitou esta proposta com a condição de que o Báb saísse de Shiraz.
A 24 de Outubro de 1846, o Báb partiu para Isfáhan, a norte de Shiraz. Aqui o governador deixou-se cativar e sensibilizar por Ele e acolheu – O de forma calorosa e generosa. (Ver os dois primeiros parágrafos da Secção 5, p.32). 
De Teerão, o Rei ordenou ao governador de Isfáhan que enviasse o Báb disfarçado, onde pretendia encontrá - Lo.  Mas o Primeiro-ministro da Pérsia daquela época era um homem egoísta e incompetente. E, temendo perder a sua posição e poder, convenceu o Rei a mudar as suas ordens e a enviar o Báb para a província do Azerbaijão, para Máh -  Kú, situado nas montanhas do Azerbaijão que fica numa remota e inóspita extremidade do país. Isto para que a Sua influencia e a Sua Fé fosse esquecida. Mas ao contrário disso, o Báb conquistou a admiração do povo e espalhou Sua Fé por todo o país.       ( Ver último parágrafo da Secção 6, p. 34)
O Báb foi de novo transferido. Desta vez para a fortaleza de Chiriq. Mas também ali o povo foi conquistado. Até mesmo os sacerdotes mais distintos da região aceitaram a nova Fé e abandonaram as suas posições de privilégio para se juntarem aos Seus seguidores.
Assim que o Primeiro-ministro soube da Sua crescente popularidade em Chiriq, deu ordens para que O enviasse imediatamente para Tabriz. Ali, o governo convocou uma reunião com as autoridades para interrogar o Báb e encontrar uma maneira mais eficaz de pôr fim à Sua influência. Nessa reunião tentaram humilhá – Lo, mas foram dominados pela Sua majestade e grandeza. Quando Lhe perguntaram, “Quem reivindicais ser, e qual é a mensagem que trazeis?” Ele declarou:
“ Eu Sou, Eu Sou, Eu Sou o Prometido! Sou Aquele cujo nome há mil anos invocais, a cuja menção vos tendes levantado, cujo advento tendes ardentemente desejado presenciar, e a hora de cuja Revelação tendes suplicado a Deus que apressasse. Verdadeiramente, digo, incumbe aos povos, tanto do Oriente como do Ocidente, obedecer à Minha Palavra e jurar lealdade à Minha pessoa.”
Foi em Tabriz, no ano de 1850, que o novo Primeiro-ministro da Pérsia, tão sanguinário quanto o anterior ordenou a execução do Báb. Confinaram – No numa cela junto ao pátio que seria o cenário do Seu martírio.
Quando O conduziam para a cela, um jovem abriu caminho através da multidão e atirou-se aos pés do Báb. Não me afastes de Ti ó Mestre. Onde quer que Tu vás, permite que eu Te siga. “Levanta-te, respondeu o Báb, “e tem confiança que estarás Comigo. Amanhã tu testemunharás o que Deus decretou.” O jovem foi imediatamente preso, juntamente com outros dois companheiros, na mesma cela em que estavam confinados o Báb e o Seu secretário. Este jovem tornou-se conhecido como Anís.
Anís tinha ouvido a nova Mensagem quando o Báb estava em Tabriz e decidiu segui -Lo até Chiriq. Tão forte era o fogo do amor de Deus que ardia no coração de Anís que o seu único desejo era sacrificar-se pela nova Fé. Mas o seu padrasto, alarmado com o comportamento estranho do seu enteado, obrigou Anís a ficar em casa e manteve-o sob rigorosa vigilância. Ali, Anís passou semanas em oração e meditação, implorando a Deus que lhe permitisse alcançar a presença de Seu Amado. Um dia, quando estava emerso em oração, teve uma visão extraordinária. Ele viu o Báb à sua frente chamando-o Anís atirou-se aos Seus pés. – “Regozija-te,” disse-lhe o Báb, “aproxima-se a hora em que, nesta mesma cidade, serei suspenso diante dos olhos da multidão, e cairei vítima do fogo do inimigo. A ninguém escolherei senão a ti para partilhar Comigo a taça do martírio. Tem a certeza que esta promessa que te dou será cumprida.” E assim, Anís começou a esperar pacientemente, sabendo que rapidamente chegaria o dia em que se reuniria com seu Amado. Agora, por fim, tinha atingido o desejo do seu coração.
Naquela noite, o Báb ardente de júbilo. Falou com alegria a Anís e aos outros três companheiros leais confinados com Ele na cela. “Amanhã” disse-lhes, “será o dia do Meu martírio.” Oxalá pudesse um de vós agora levantar-se e, com as próprias mãos, pôr fim à Minha vida. Prefiro ser chacinado pela mão de um amigo, do que pela mão do inimigo.” Nenhum deles se atreveu sequer a pensar em por fim a esta preciosa vida, e permaneceram em silêncio, com lágrimas correndo pelos olhos. Subitamente, Anís lançou-se aos Seus pés, anunciando que estava pronto para obedecer a qualquer coisa que o Báb ordenasse. “Esse mesmo jovem que se levantou para aceder à Minha vontade,” declarou o Báb,” sofrerá juntamente Comigo o martírio. Será ele quem escolherei para partilhar essa coroa.”
Ao inicio da manhã seguinte, 9 de Julho de 1850, o Báb estava a trabalhar com Seu secretário quando, de repente, um guarda interrompeu a Sua conversa. “Antes de Eu lhe dizer todas aquelas coisas que desejo dizer, Disse o Báb ao guarda, “nenhum poder terreno haverá de Me silenciar. Mesmo que o mundo inteiro se arme contra Mim, porém serão impotentes para Me impedir de cumprir, até à última palavra, a Minha intenção.” Mas o guarda não entendeu o significado das palavras do Báb. Não respondeu nada e instruiu o Seu secretário para que o seguisse. O Báb foi levado da Sua cela para a casa do sacerdote mais proeminente da cidade de Tabriz que, sem hesitação, assinou o decreto da Sua execução.
Mais tarde, nessa manhã, o Báb foi levado de volta ao pátio onde uma multidão de aproximadamente dez mil pessoas se tinha reunido para testemunhar a Sua execução. Ele foi entregue à custódia de Sám Khán, o comandante de um regimento de soldados incumbido de O executar. Mas Sám Khán estava afectado pelo comportamento do Báb, e temia que a sua execução provocasse a ira de Deus contra ele. “Eu professo a Fé Cristã,” explicou ele ao Báb, “e nenhum desejo maligno alimento contra Vós. Se a Vossa Causa for a Causa da Verdade, livrai-me da obrigação de derramar o Vosso sangue.” “Segui as vossas instruções,” respondeu o Báb, “e se a vossa intenção for sincera, o Omnipotente poderá certamente aliviar-vos da vossa dificuldade.”
Sám Khán ordenou aos seus homens que colocassem um prego no muro e nele amarrassem duas cordas; nessas cordas o Báb e Anís foram suspensos. Depois, o regimento colocou-se em três fileiras, cada uma com 250 homens. Uma fileira após outra, abriram fogo, Quando o fumo das 750 espingardas se dissipou, a multidão atónita contemplou uma cena que os seus olhos mal podiam acreditar. Anís estava de pé diante deles, vivo e ileso, e o Báb desaparecera da sua vista. As balas apenas tinham cortado as cordas com que eles tinham sido suspensos. Começou então uma frenética busca pelo Báb. Por fim encontraram – No sentado na Sua cela, completando a conversa, que fora interrompida, com o Seu secretário. “Terminei a Minha conversa” disse o Báb. “Agora podeis proceder ao cumprimento da vossa intenção.”
Abalado com o que tinha ocorrido, Sám Khán recusou-se a permitir que os seus homens disparassem de novo e ordenou-lhes que abandonassem o pátio. Trouxeram, então, outro regimento para proceder à execução. Uma vez mais o Báb e Anís foram suspensos no pátio e os soldados abriram fogo. Desta vez as balas acertaram no alvo. Os corpos do Báb e de Anís ficaram cravados de balas e horrivelmente mutilados; mas as suas faces permaneceram quase intactas. Quando o regimento se preparava para disparar, o Báb dirigiu estas últimas palavras à multidão que O fitava:
“Tivésseis vós acreditado em Mim, ó perversa geração! Cada um de vós teria seguido o exemplo deste jovem que, em grau, é superior à maioria de vós, e de bom grado ter-se-iam sacrificado no Meu caminho. O dia virá em que vós Me tereis reconhecido; nesse dia, Eu terei deixado de estar convosco.”
Sobre este Santo Ser, ‘Abdu’l-Bahá disse:
“A base da crença do povo de Bahá – oxalá lhe seja oferecida em holocausto a Minha vida! – é esta: “Sua Santidade, o Excelso (O Báb) é a Manifestação da Unidade Divina e o Precursor da Beleza Antiga (Bahá’u’lláh). Sua Santidade, a Beleza de Abhá (Bahá’u’lláh) – oxalá a minha vida seja oferecida em holocausto pelos Seus amigos leais! – É o Supremo Manifestante de Deus e a Aurora da Sua mais divina Essência. Todos os outros são Seus servos e cumpridores da Sua Vontade.”
Sobre este Santo Ser o Guardião escreveu:
“O Báb, aclamado por Bahá’u’lláh como a ‘Essência das Essências’, o Mar dos Mares’, o ‘Ponto em Cujo redor se revolvem as realidades dos Profetas e Mensageiros,’ ‘de Quem Deus fez proceder o conhecimento de tudo o que havia e que haverá,’ Cujo ‘grau excede o de todos os Profetas,’e Cuja Revelação transcende a percepção e a compreensão de todos os seus eleitos’ havia entregue a Sua Mensagem e cumprido Sua Missão. Aquele que, nas palavras de Abdu’l-Bahá,’ era o Amanhecer da Verdade’ e o ‘Arauto da mais Grandiosa Luz’, ‘Cujo advento assinalou, ao mesmo tempo, o fim do ‘Ciclo Profético’ e o inicio do ‘ciclo do Cumprimento,’ havia simultaneamente, através da Sua Revelação, banido as sombras da noite que envolviam o Seu país e proclamado a iminente aparição d’Aquele Astro Incomparável, Cujo esplendor haveria de abranger a humanidade inteira,”
Sobre este santo Ser o próprio Bahá’u’lláh explica:
“O facto de haver tão pequeno intervalo entre esta maravilhosa e poderosíssima Revelação e a Minha Manifestação anterior é um segredo que homem algum pode descobrir, um mistério que mente alguma é incapaz de penetrar.”
Sobre este Santo Ser, o Guardião diz-nos:
“As Suas qualidades eram de uma nobreza e beleza tão raras, A Sua personalidade tão meiga e, não obstante, tão dinâmica, e ao Seu encanto natural aliava-se tanto tacto e discernimento que, logo após Sua declaração, Ele se tornaria uma figura de grande popularidade por toda a Pérsia. Conquistava a simpatia de quase todos com quem tinha contacto pessoal, muitas vezes convertendo os Seus carcereiros à Sua Fé e transformando os malévolos em amigos cheios de admiração.”
Referindo-se ao Báb, Abdu’l-Bahá disse:
“Quanto ao Báb – possa eu oferecer – Lhe a minha alma em holocausto – quando era ainda muito jovem, isto é, no vigésimo quinto ano da Sua vida abençoada, levantou – Se para proclamar a Sua Causa em oposição aos persas, célebres pelo seu fanatismo religioso. Esse espírito ilustre levantou – Se com tal poder, que fez tremerem os esteios da religião, da moral, dos hábitos, dos costumes e condições predominantes na Pérsia, e instituiu novas normas e leis, e uma nova fé….O governo, os teólogos, as altas personalidades e o povo em geral, desejaram extinguir a Sua luz, mas não o puderam fazer. Brilhou, afinal, como uma estrela; ergueu-se tal e qual uma lua; estabeleceram-se firmemente os Seus alicerces, e a Sua alvorada raiou. A uma multidão submersa nas trevas Ele deu a educação divina, produzindo maravilhosos efeitos no pensamento, na moral, nos costumes e condições dos persas. Aos que O seguiam, anunciou a boa nova – a manifestação do Sol de Bahá – e preparou-os para que n’Ele acreditassem.”
Parte 3
Terminamos esta apresentação com palavras de EÇA DE QUEIROZ (escritor português), sobre O Báb:  “Calado, invadido pelo pensamento do Báb” – o Arauto da Revelação bahá’i – “revolvia comigo o confuso desejo de me aventurar nessa campanha espiritual… Porque não? Tinha mocidade, tinha o entusiasmo… Via-me discípulo do Báb… E partia logo a pregar, a espalhar o verbo babista. Onde iria? A Portugal, certamente, levando de preferência a salvação às almas que me eram mais caras.”     (Queiroz, Eça. A Correspondência de Fradique Mendes)

Seguir com a recitação da Epístola de Visitação de Bahá’u’lláh


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