quinta-feira, 10 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES, 2011, ponto de vista bahá'i

  
8 de março – Dia Internacional das Mulheres
Por Mary Caetana Aune-Cruz*
Há exatos 100 anos o mundo passou a celebrar, em 8 de março de cada ano, o Dia Internacional das Mulheres. A data fora definida no ano anterior pelos participantes de uma conferência das Nações Unidas como uma maneira de lembrar os países sobre a necessidade de se garantir que os direitos das mulheres fossem tratados com a devida consideração.

Muitos anos antes, em 1848, uma jovem persa de 36 anos atreveu-se a aparecer publicamente despida do véu que cobria seu rosto. Ela o fez por acreditar na Mensagem do Báb – Profeta Precursor da Fé Baháí – que dizia que mulheres e homens deveriam trabalhar juntos para o progresso da sociedade. Poetisa e teóloga, ela era reconhecida em seu meio pela eloquência com que defendia suas posições, nunca permitindo que as regras e convenções de sua sociedade a impedissem de atingir seu potencial. Esta jovem ficou conhecida como Tahirih, “A Pura” - a primeira mulher a aceitar a Fé de Baháulláh e a proclamar direitos iguais para mulheres e homens na antiga Pérsia.

Os próprios seguidores do Báb, reunidos em uma conferência na cidade de Badasht, incomodavam-se com a presença dessa bela mulher. Apesar de acreditarem na mensagem trazida pelo Manifestante de Deus, esses homens tinham sentimentos bastante fortes com relação à posição das mulheres na sociedade, e seria preciso tempo para que compreendessem e se acostumassem com a ideia da igualdade. Conta-se que a aparição de Tahirih sem o véu os deixou extremamente perturbados, e que um deles cortou a própria garganta ao vê-la daquela maneira.

Juntamente com outros Bábís, Tahirih sofreu inúmeras perseguições e exílios pelo receio que as autoridades tinham diante da influência dos princípios que defendiam na sociedade. Em 1852, ela foi presa na casa do governador de Teerã, sendo impedida de se comunicar com quem quer que fosse. Três meses depois, uma carta do próprio Rei – que já havia expressado admiração por sua beleza e erudição – dizia que ela seria libertada e teria o privilégio de ser tomada como sua esposa, desde que, na presença de dois clérigos, renegasse sua fé e se declarasse muçulmana. Sua resposta foi imediata: “Podem me matar assim que quiserem, mas não podem impedir a emancipação das mulheres!”.

Tahirih foi estrangulada com um lenço que ela própria escolheu e seu corpo foi então jogado em um poço. Passados mais de 160 anos desde que essa luta começou a se popularizar, episódios de violência, discriminação e repressão às mulheres ainda são comuns em todos os países do mundo. No Brasil, a cada cinco segundo uma mulher é vítima de violência. Nos Estados Unidos e na Europa, a “coisificação” das mulheres ainda reproduz uma ideologia de culto ao corpo em detrimento do potencial humano de contribuição que podem oferecer à sociedade. Em vários países da África, a mutilação genital ainda é tida como uma questão de tradição, ignorando o fato de que o corpo é o templo da alma humana e precisa ser preservado. Na Índia, as taxas de infanticídio contra meninas seguem altas, devido ao fato de as famílias não terem condições de arcar com o dote que corresponde ao casamento de suas numerosas filhas. Na América Latina, o serviço doméstico priva uma quantidade absurda de meninas e jovens de darem seguimento a seus estudos, além de expô-las a uma dura realidade de abusos psicológicos, laborais e sexuais. Infelizmente, esta lista poderia se estender por longas páginas...

Apesar disso, assim como Tahirih, um número crescente de mulheres por todo o mundo seguem contribuindo ombro a ombro com os homens justos para a melhora de suas comunidades, dotadas de muita perseverança e fé na igualdade que buscam conquistar. Cada vez mais, elas têm ocupado funções de destaque na sociedade, seja em termos da liderança familiar e comunitária, no comando de grandes empresas públicas e privadas ou nos governos. Estudos revelam que, uma vez que chegam ao poder, dificilmente perdem sua influência. O exemplo das vidas dessas mulheres demonstra que a resposta adequada à opressão não está em sucumbir em resignação nem em assumir as características do opressor. Transcender a opressão só é possível por meio de uma força interior que protege a alma da amargura e do ódio e que dá sustento à ação consistente, baseada em  princípios como a justiça, a unidade e a promoção da paz.

Baháulláh ensina que o equilíbrio entre o masculino e o feminino é a única forma de fazer com que a humanidade possa avançar. Enquanto as energias puramente masculinas dominam as esferas de tomada de decisão, é impossível garantir que o desenvolvimento ocorra de maneira plena. As guerras persistirão, as desigualdades crescerão e o meio ambiente continuará a sofrer, trazendo consequências nefastas para toda a população mundial. Isso não significa que as mulheres seriam “mais pacíficas”, “mais justas” ou “mais conscientes”; antes, quer dizer que ignorar a contribuição potencial feminina – que corresponde a mais da metade da população mundial total – nos impede, enquanto coletividade, de enxergar a realidade de maneira integral e buscar soluções eficientes para os problemas que afligem a humanidade.

A igualdade já é uma realidade em termos espirituais, visto que a alma não tem sexo. Resta-nos trabalhar para que ela possa se refletir também em nossa realidade material, garantindo a participação das mulheres em todos os campos de atividade humana a fim de estabelecer o clima moral e psicológico necessários para o estabelecimento da paz internacional e do progresso de uma nova civilização mundial.


* Mary Caetana Aune-Cruz é cientista política pela Universidade de Brasília (UnB) e membro da comunidade baháí.
Fonte: Agência Bahá'í de Notícias [aben@bahai.org.br], 2011-03-08


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